Eu posso amar alguém sem conhecê-lo?
Posso transpor-me para dar-me a quem não conheço?
Se amar é a decisão consciente de ser e viver para o outro, inclusive na ausência de merecimentos, é possível exercer tal dimensão, profundidade e intensidade de entrega de si mesmo a quem não se sabe quem é?
Na superficialidade das mentalidades, no raso fluído emocional e afetivo de grande parte das pessoas do nosso tempo, é possível encontrar amores reais e efetivos, já que o conhecimento de si mesmo e do outro são fatores cada vez mais distantes e pouco valorizados?
Numa sociedade em que as pessoas valem pelo que têm, tornam-se “queridas” se podem oferecer algo em troca, se são “bonitas” apenas se estão dentro dos padrões criados e ditados pela moda, se cumprem as regras sociais à risca, se não oferecem nenhum desafio nos processos de relacionamento (afinal, quem quer aguentar e cuidar de uma pessoa problemática?), será possível encontrar uma autêntica buscar pela verdade, linda e infusa em cada ser humano?
Num mundo cada dia mais virtual, frio e tecnológico, com multidões imersas em imensos vazios existenciais, relações sempre menos estáveis e baseadas no completo descompromisso, é possível que se jogue fora os pré-julgamentos idiotas, superficiais e até cruéis e que o conhecimento de si mesmo e dos outros volte a estar na pauta dos principais valores a serem buscados na vida?
É possível que o ser humano reconheça que a principal enfermidade do nosso tempo não é biológica nem orgânica e sim interior? Que está no desiquilíbrio do que é mais essencial em nós, na superficialidade em relação a tudo e a todos, no relativismo, na inconsequência, no desafeto, no esquecimento da alma, na falta de apuro nos sentidos subjetivos e poéticos do ser, no total desconhecimento da natureza mais profunda de cada ser humano, linda e ricamente singular em suas vivências?
O que se ouve hoje nas músicas, tão ruins, vazias e banais; O que se assisti hoje na tv, nas novelas tolas, nos programas sensacionalistas e retardadores dos processos de crescimento mental, emocional e espiritual; O que se lê hoje em grande parte das mídias impressas, revistas recheadas de inutilidades e retratos fúteis da vida alheia e até das bundas alheias; O que se vê e se tecla na internet, tão mal utilizada. Tudo isso são infelizes e inexoráveis expressões de que, nos dias atuais, ser gente de qualidade não tem mais a ver com autoconhecimento e conhecimento profundo do outro.
Amor, hoje, é transar.
Amor, hoje, é aventura.
Amor, hoje, é até que acabe.
Amor, hoje, depende do que se tem, do que se pode oferecer.
Amor, hoje, é tempero de cozinha.
Amor, hoje, é buscar a própria felicidade, não a do outro.
Saudade das famílias sentadas à mesa para comer, rir e chorar, quando a televisão nem existia. As pessoas se conheciam.
Saudade do tempo em que se gastava tempo para escolher uma boa caneta e um bom papel para escrever uma boa carta. As pessoas se revelavam.
Saudade do tempo em que namorar era um compromisso assumido aos poucos, passando por deliciosos processos de paqueras, aproximações, diálogos. As pessoas se valorizavam.
Saudade de quando os amigos tinham tempo para estar juntos em volta de uma fogueira para cantar canções lindas, profundas e alegres, não “coisificantes” da pessoa humana. As pessoas amavam os valores que não passam.
Saudade da época em que as músicas eram inspiradoras da inteligência, das boas emoções, da riqueza saudável das relações.
Triste.
Não há religião, livro, música, palestra, pregação, remédio ou terapia que resolva a carência crônica das pessoas ao nosso redor. Porque, simplesmente, perdeu-se o interesse pelo autoconhecimento e conhecimento do outro.
Conhecer a si profundamente a si mesmo e ao outro, à luz do amor ilimitado e misericordioso de Deus é a única e efetiva cura para os males do coração e da alma, de onde provêm todos os outros males do ser humano.
Utopia?
Parece que sim.
Mas nenhum caminho mais difícil parece bom ao mundo de hoje.
Triste.
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